Terra viva
Este é o chão que me sustenta, o chão que me há-de tomar. Esta é a vida que sigo. A vida que é chão, que é terra firme, onde caminho há muitas luas. Aqui me aquieto, me centro, me sinto plena. Antes de mim tantas histórias, tanto suor, sangue, sémen, tantos corpos-semente. Todos eles em mim, e eu por todos eles.
Como não amar as pedras onde o sol escaldante se desfaz todos os dias, onde o dia repousa depois de se cumprir. Como não amar os ribeiros nervosos, escondidos timidamente no vale.
Como não amar esta terra, e nesta terra ser este amor-vivo. Como não agradecer dançando, orando, esta vida que é sempre e cada vez mais espanto.
Nesta orca-arca do corpo-húmus a força da vida ainda se sente. A eternidade adormeceu hoje mais feliz, relembrando-me que sou parte disto. Tão imensa que não caibo neste corpo.
Hoje o dia voltou a beijar a noite e os meus olhos viram esse beijo, como o terão visto, maravilhadas, tantas e tantas almas antes de mim. Esse amor-vida descontroi por momentos a loucura destes tempos, e devolve-me a mim. Aqui nada me falta.
Agosto 2021
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