Sobre a vida que passa
O meu sol já se afasta do meio dia.
Sou uma amante secreta da melancolia e do abismo.
Há um encanto inigualável no breu dos dias,
Uma verdade crua.
A pureza habita em cada canto cansado do vazio do tempo,
E não existem palavras para cantar a beleza do inefável
Para além do nada há tudo.
A rendição é uma porta de esperança viva a alimentar a alma faminta.
Tenho fome, sempre tive fome dos grandes espaço de silêncio
E invejo as aves, os répteis, os felinos.
Invejo as raízes das árvores, os troncos fortes e seguros, e até os que graciosamente sustentam a dança alegre das copas.
Invejo o fundo do mar, as baleias e os cardumes que unidos são um só.
Não escolhi a solidão, a solidão escolheu me a mim,
Temos sido companheiras inseparáveis, na alegria e na tristeza
O tempo escreverá o resto da história e mais tarde voltará a apagá-la.
Não há lugar para lamentos. A vida é um cântico sagrado. Um mantra, uma reza.
Até no absurdo.
Até na escuridão.
Até na garganta seca, na pele deserta, nos olhos rasos de lágrimas.
Até na ínfima partícula de existência efémera.
Até aqui, o amor é o grande tecelão.
Na orgânica generosa dos dias os olhos continuam a abrir-se em cada manhã para as maravilhas infindáveis desta terra-chão.
Bênçãos, magia, mistérios, são linguagem de quem não perde a fé.
Abraços, sorrisos, pequenos-grandes gestos a relembrar constantemente que a vida se desdobra em flor, mesmo nos terrenos mais áridos.
JULHO 2022
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