Pele viva
Nada mais simples do que viver em conexão com os ritmos desta terra e deste céu que somos. Habitar este corpo que é vaso vivo, e dá-lo a beber e a comer, sabendo-se que algures haverá sempre um ponto de encontro onde estas partículas se fazem casa, e de tanto se amarem se encontram para celebrar, como se o tempo fosse um canto ancestral.
Dar deste fogo ao fogo, permitindo que a pele se estique, se queime, caia e se dissolva em nobres cinzas, sabendo que mesmo a carne viva dará lugar a uma nova camada, e que a beleza dessa fragilidade é um convite a receber. E permitir que no meio da noite escura, onde os planetas e as estrelas se alinham nas suas velhas orações, haja olhares que, iluminados pelo alaranjado do fogo, possam ser portais a atravessar a alma, reclamando o êxtase perdido.
Porque somos feitos disto, e já o sabemos.
E assim se acolhe este sol que é promessa, relembrando que há um lugar de onde nunca partimos, que é nosso, que é coração, que é reza firme, que é raiz profunda, que é eterno. E ainda que a noite seja escura, ela não poder ser senão casa, lugar de paz.
E assim, neste fechar de olhos há uma história que se desdobra, como palavras a dançar na guitarra dos velhos trovadores.
Estamos em casa, e aqui se dançam infinitas possibilidades. Como é infinito o amor e o amar.
Família, tribo, irmãs e irmãos, estamos junto@s.
21 de Dezembro de 2020
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