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Remendar a vida

Ambas as minhas avós remendavam.

Reparavam, recuperavam, transformavam. Ambas cuidadoras, como o são em potencial todas as avós do mundo, remendavam a vida, mesmo o que não tinha remédio. Os trapos em fim de vida serviriam para lavar o chão, ou algum canto mais sujo. Até ao fim dos fins, tudo era tão precioso. Este remendar era uma meditação, um momento de silêncio, um refazer da teia e da trama não só das roupas gastas por tanto uso, mas das vidas cansadas, dos desafios acumulados pelo tempo. Talvez pouco mais soubessem ou fossem do que este cuidar, e isso era tanto e era tudo. A escassez ou pobreza material movimentava o gesto natural do preservar, e sem o saberem transmitiam a semente. Hoje observo o balanço entre o desperdício, a fartura desvalorizada, e impulso à simplicidade, uma nova visão do que verdadeiramente trás a sensação de abundancia.

A caixa de costura das minhas avós, e mais tarde a minha, eram mundos cheios de histórias e aventuras. Nelas e com elas faço e desfaço o novelo na esperança que é alimento para a vida.


Junho 2021


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