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Avó Maria

O coração da minha avó parou ontem de manhã, a poucos meses de completar 100 anos. Por volta da hora da morte, eu, a minha mãe e o meu filho pensamos nela, internada há alguns dias. Ao darmos conta da sicronicidade, o meu filho de 14 anos diz, de uma forma tranquila e fluida, que o fenómeno é perfeitamente natural, e que a avó/bisavó se comunicou conosco na hora da partida.


E é aqui que o meu coração, que ainda bate, se alegra, e uma réstia de esperança ganha forma.


A fé, uma espécie de matéria-vida que nos anima, é taltas vezes para mim um terreno árido, um horizonte sem forma, face a um coletivo estéril, tantas vezes cego, e quase sempre movido pelo desejo de ascender nas estruturas piramidais prisioneiras e escravas de si mesmas.


A fé, é o fermento que fazia crescer o pão da minha avó, que depois de amassado era benzido e acolhido pelo tempo nutridor da fermentação. E é hoje, para mim, estas palavras do meu filho.


Uma fé que, ainda que o corpo se vergue cada vez mais ao peso do tempo, parece despertar-me o sangue nas veias e fazer com que nem que seja por momentos sinta que afinal nem tudo estará perdido.


É uma fé que é esperança, que é vontade, que é sonho, que é visão.

Uma visão de um novo tempo onde falar da morte não seja tabu. Onde honrar a morte seja sinónimo de honrar a vida. Onde os atuais rituais fúnebres perfeitamente desconectados com a história pessoal e unica dos que por lá vão passando, possam dar lugar a uma celebração de vida. Onde os mistérios da vida e da morte possam ser não só vistos e festejados, mas também investigados com honra e dignidade.

Uma fé numa sociedade que saiba trazer para as suas vidas o RITUAL e a MAGIA, por forma a criarmos verdadeiramente laços que nos unam uns aos outros e a esta terra de que somos feitas e feitos.


Uma visão de círculo, de integração, de honestidade e profundo respeito para com todos os fios da teia, em todos os reinos e dimensões. Porque a isto sim, chamo de crescimento e maturidade intelectual, emocional, e espiturual.


Não posso deixar de sonhar, esta é a melhor forma de honrar a presença da minha avó e de todas e todos os meus ancestrais.


Porque é possivel fazer melhor, sempre. Porque a ditadura das verdades absolutas não serve o ciclo natural e orgânico que, quer queiramos ou não, no final de contas, a tod@s nos tem.


18 de Abril de 2021


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