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Mudar de pele


E se este fosse realmente um tempo de mudança de pele? Se efetivamente nos permitissemos mudar de pele? Todos, cada um à sua maneira e ao seu ritmo, desafiando crenças, certezas, medos, rituais inconscientes, hábitos e limitações obsoletas.E se desafiassemos até (ou sobretudo) o que julgamos como certo? E se pudessemos todos mudar de pele, revelando abertamente a nossa vulnerabilidade, sabendo que, mesmo atravessando a noite escura do não saber, da arquitetura mais ou menos rebuscada das sombras, soubessemos que a qualquer momento se revelaria perante nós um colo pacífico e nutridor? E se fosse seguro mudarmos de pele? Se tivessemos a possibilidade de não termos que ser impecáveis, modelos assépticos de uma espiritualidade que não perdoa falhas? E se pudessemos apenas ser esse corpo-dor, esse nó na garganta que se desfaz em pranto ou em silêncio, sabendo que algures existiria um abraço amigo, um porto seguro, um templo de escuta e de acolhimento, sem receitas na ponta da língua? E se este fosse um tempo mágico, onde pudessemos ser quem somos a cada momento, sem que essa pele morta nos definisse, mas sim nos trouxesse clareza e honestidade da expressão autêntica? E se essa expressão autêntica fosse ainda mais interessante do que o produto que todos fabricamos constantemente? E se pudessemos repousar, e ainda assim sermos vistos e não esquecidos? Se não tivessemos que estar sempre atentos, disponíveis, e se isso não revelasse incompetência, mas sim o tempo tão necessário à gestação para novos partos? E se a vida fosse afinal um tremendo processo criativo, onde a individualidade seria estimulada e respeitada, e nunca vista como competição? E se a mudança desta pele nos libertasse o corpo-intuição, e se nos pudessemos encontrar por ressonância de alma? Se as almas se escutassem, sem serem atravessadas pelo marketing, pelas palavras ou imagens "certas"? E se deixassemos nascer outra forma de comunicação? E se pudessemos ter opiniões divergentes ou contrárias e ainda assim sermos todos respeitados por todos? Se pudessemos ser fonte de inspiração, de entusiasmo, de impulso, e ainda assim sermos corpo que também pede embalo? E se, depois de termos aprendido a ver na escuridão, ao abrirmos os olhos de novo, finalmente nos conseguissemos ver, a nós mesm@s e ao outr@, algo mudaria?

21 de Abril de 2020

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