O VÍRUS do MEDO
O VÍRUS do MEDO
Hoje o desperdador não tocou à hora habitual, não repeti 359 vezes ao meu filho: tens que te despachar! Aliás, antes da hora habitual já eu estava desperta, depois de um pesadelo que me arrancou do sono tranquilo. É impossível não sentir - o MEDO é um BURACO NEGRO, um vórtice que parece engolir tudo: engolir as rotinas, os projectos, a segurança. A vida nas suas múltiplas manifestações, treme. O mundo treme.
Às vezes tenho vontade de chorar, mas ainda não consigo. No carrossel de emoções em que estou, ora me deixo deslizar, ora naufrago, ora encontro de novo orientação, sou para lá de bipolar, sou um estado emocional novo, que ainda carece de definição académica.
Sou isso tudo e tanto mais, o que já descobri, e o tanto que ainda me falta descobrir. Parece-me que este é o momento em que todas as teorias saltam da cartola, criando uma amálgama neuronal caótico-depressiva-criativa, onde o MELHOR e o PIOR de novo se confrontam.
Este parece ser o SONHO, a VISÃO, a PROFECIA de que tanto falámos e ouvimos falar. Ainda me pergunto tanto, e ainda desejo conhecer as respostas devagar, para não sobrar pitada do vislumbre que a janela parece oferecer.
Do lugar onde me encontro, a solidão e a solitude já são companheiras do dia a dia. Numa clareza sobre o sentido das escolhas, e igualmente das consequências, sei que este é um processo transformador. Como todas as transformações forçadas, a recusa, a confusão, o equívoco, a loucura, a tristeza, podem tomar conta dos mais desprevenidos, e dos mais prevenidos também.
Não há receitas mágicas, não há uma clareza quanto ao futuro, não há lucidez suficiente, porque se caminha num aparente território novo.
Eu levo tudo isto a sério, muito a sério. Mas questiono-me sobre o que dirão as nossas memórias, que segredos esconde ainda a nossa alma, e igualmente a nossa sombra.
Naturalmente todos teremos tempo para meditar um pouco, e nunca tantas verdades foram e serão escritas, e esta é apenas a minha.
Entre o tanto que ainda não entendi, soa-me alto a necessidade de me manter num alinhamento interno que contempla toda a complexidade de emoções e pensamentos, e algo novo, que aos poucos também se vai tornando mais palpável.
O Mundo está a parar, e eu ainda assim a sonhar, sentindo a alavanca a mexer-se. A grande roda está mais activa do que nunca. E tudo é real. Tudo. O pior e o melhor que ainda não vi, acredito em tudo.
Tenho saudades dos abraços do mundo, o mundo sem abraços é mais pobre.
Mas o coração continua a ser um lugar seguro, pode ser o mais tóxico ou o mais puro - talvez seja uma das poucas coisas que ainda podemos escolher em liberdade.
Mizé Jacinto
16 de Março de 2020