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Medo


Depois de dias sem energia sequer para mexer as pestanas, saio finalmente à rua para celebrar a VIDA através de uma das brincadeiras que mais AMO: FOTOGRAFAR. Saio da estrada e encosto o carro logo ali, a escassos metros. Está frio, vento, e uma atmosfera cinzenta, exatamente como eu quero. Fazer auto-retrato apresenta algumas dificuldades, embora não queira estar muito exposta aos elementos, também não estou com pressa. Avanço um pouco mais em direção às arribas do mar, ainda em campo aberto, a uns 100 metros do carro. Entre correr para a frente e para trás da câmara perco a noção do tempo, já que a coisa nem está a correr bem.

De repente, movida por qualquer instinto mudo de posição e avisto num rasgo de tempo um HOMEM por entre uns arbustos, a olhar diretamente para mim equanto se entretinha num frenesim menos próprio.

Não sei em quanto tempo cheguei ao carro nem quantas vezes pedi PROTEÇÃO divina, sim, porque ali ninguém deste lado me poderia valer. Tive MEDO, claro que tive medo, sabes PORQUÊ? Ao que parece uma em cada cinco MULHERES é vítima de abuso sexual. Está-nos no sangue, todas temos medo.


Em pleno inverno, roupa e mais roupa, a desculpa da provocação não deve servir.


Então mas que raio é isto? Uma PATOLOGIA? É sem dúvida uma AMEAÇA, um abuso. Quem é este homem, o VIZINHO? O PAI da tua amiga? O MARIDO da senhora da padaria? Quem são estes HOMENS?

Eu cesci com isto, ainda tenho algumas imagens na minha memória, assustadoras para uma míuda, impossíveis de limpar.


Quem é desta zona talvez se lembre de um episódio há uns anos atrás, onde um destes homens não contente em limitar-se a observar um casal que namorava, à noite, dentro do carro, atirou sobre eles. Na altura um, ou uma jornalista local levantou um pouco deste véu, revelando toda uma prática organizada nas praias da região. Homens casados, normais, a cima de qualquer suspeita.

E não é só aqui. Segundo dados da PORDATA, na Europa a França estava em primeiro lugar em 2017, seguida da Alemanha e da Suécia. Talvez porque finalmente as mulheres (também há violência sexual sobre Homens, mas MUITO MENOS), começam a ganhar coragem de falar, bem como de definir mais claramente onde começa e acaba o consentimento. As vítimas de abuso sexual para além de terem que lidar com esse monstro para o resto dos seus dias, deparam-se com a CULPA, como a grande barreira e tão difícil de transpor.

A justiça é o que sabemos. Por isso fica o MEDO como um lembrete para a próxima vez que decidir sair da estrada nem que sejam poucos metros. Porque sou MULHER, e as mulheres não têm direito a serem elas mesmas sem risco de serem uma presa, grosseiramente importunadas por uma camada invisível de HOMENS vindos sabe-se lá de onde, certamente do raio que os parta.

E pronto, já desabafei. Felizmente que a expressão HUMANA não se define aqui.


22 de Dezembro 2019

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