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O lugar mágico

Atravessamos desertos sem saber se haverá água no fim do caminho. Secamos por dentro como fontes extintas há muito. Adoecemos até aos ossos de neurose e de solidão. Somos templos vandalisados, somos matéria para combustão, mentes-tempestade num grito eléctrico. Somos tristeza sem colo, corpos presos na ilusão dos dias. Somos o que nunca fomos, até nos arrastarmos, febris, para o mais profundo abismo. E somos tudo isto sem o sabermos, porque não há tempo a perder, e vulnerabilidade parece vírus - pode pegar-se, há que estar sempre impecável. Há que fazer parte desse mundo imaculado. Há que silenciar o pranto, nem um soluço será permitido! Não há espaço para negociar o medo, nem tempo para a reconciliação com a tragédia das rugas e da flacidez. Não haverá lugar para quem não o reclamar. Far-se-há o luto em três tempos e sem ninguém saber. O lamento é uma faca afiada, separando - te do mundo que entretanto já alinhou os chacras e se prepara para as novidades dos coloridos. A dança das cadeiras continua, tem atenção, se falhares ficas de fora. A menos que... Sejas o caminhante e o caminho, e o fogo de artifício já não te distraia. Sejas a flor e o perfume, e a magia alheia já não perturbe essa essência que nasce da pureza da vida, das entranhas da terra, do calor do sol, da frescura da água. Sejas o fogo que se incendeia e se devora a si mesmo, o êxtase e a paixão infinita.

Mizé Jacinto, Agosto 2019

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