De mãos dadas
O que mais limita as mulheres do mundo que observo, já não é a prepotência e o domínio masculino, mas muito mais o desconhecimento da sua natureza selvagem, intuitiva e profundamente amorosa, da força alquímica que nos habita, capaz de criar e de destruir apenas pela vontade.
Limita-nos a competividade umas com as outras, reflexo da falta de auto estima e da entrega do poder pessoal. Limita-nos a vitimização e desresponsabilização pelas nossas vidas.
Limita-nos a crença no socialmente correcto e nos medos criados pela máquina do sistema que nos escraviza.
Limita-nos a carência de amor próprio, incapazes de olhar e honrar o corpo na sua natureza abundante, e sob qualquer forma bela. Incapazes de nos libertarmos dos modelos de beleza repressivos que criamos e alimentamos. Limita-nos o medo de sermos tocadas, amadas, esquecidas, preteridas. O medo de arder em desejo e explodir orgasticamente para além do corpo.
Limitam-nos as memórias do que não fomos capazes de fazer ou fizemos mal.
As feridas da Mãe, do Útero abandonado.
Limitamo-nos cegamente a nós mesmas alimentando o medo da imperfeição e da solidão. Mulheres fechadas estarão sempre sós. Mulheres plenas nunca o estarão, ainda que amem a presença do outro.
Limita-nos o exercício do poder e controlo no papel predominantemente masculino que escolhemos viver nas últimas décadas e que nos afasta cada vez mais da essência primitiva e amplamente consciente dos ciclos naturais.
Limita-nos a falta do cheiro da terra, dos uivos, dos cios, das grandes rodas de partilha.....
Mizé,
Novembro de 2010